quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A Choice of Three

"No túnel eu percebi que teria três escolhas. Enquanto eu pensava ser muito gentil da parte deles, me pergunto se eles perceberam o dilema que eles estavam me fazendo encarar.
O problema era: se eu olhasse para o seu reflexo na esquerda, perderia a imagem atual e o reflexo da direita, e se eu olhasse para o seu reflexo na direita, teria o mesmo problema só que do lado contrário.
De início eu pensei que deveria fixar em um dos reflexos como se ele estivesse prestes a desaparecer, mas a ideia rapidamente murchou, e minha atenção foi puxada de volta para o centro, ocasionalmente checando cada lado.
Eu devo dizer que realmente me questionei sobre a autenticidade do seu cochilo alguns minutos atrás. Como o trem deixou Loughborough eu suspeitei que poderia ser um tipo de dispositivo para evitar conversas. Eu mal considerei isso por um momento, no entanto, uma respiração pesada e um som de deglutição, que eu julguei ser embaraçoso demais para ser falso me guiaram a perceber que seu cochilo não era uma fraude.
Eu achei difícil conseguir me concentrar em outra coisa que não fosse você quando você se afundou em seu casaco. Satisfeito que tenhamos esperado até essa hora pra viajarmos, o sol do fim da tarde tem sua oportunidade de iluminar suas bochechas sonolentas, mas nervoso com a perspectiva de ser removido do meu banco para sentar no seu. Eu sabia que estava reservado, mas eu esperava que, seja quem for que o tenha reservado, tivesse apenas caído fora.
Parecia que hoje eu estaria seguro. O trem não estava muito cheio, mas eu tirei um momento para me relembrar de quando eu era menos sortudo. Eu me lembrei com um vivivity arrepiante que estávamos a caminho de Brighton.
Eu sabia que esse seria o seu assento no momento em que o vi na plataforma, abrindo, verificando, fechando e reverificando coisas. Algo em seu rosto sugeriu que por anos teve um bigode e não havia muito tempo que o tinha removido. Ele não iria pensar duas vezes para me eliminar, especialmente considerando que ele teria a chance de sentar com você.
Achei que sua caminhada marchando-com-botas pelo vagão foi um tanto quanto revoltada. Mas não foi isso que deixou minhas mãos tensas em garras amargas de náusea. Foi a forma como ele falou "Você está no meu lugar".
Sem um "Com licença", ou uma educada incerteza, apenas a rigidez, o fato hediondo.
O baque com o qual ele me abordou expeliu toda a minha preparação, e antes que eu pudesse me lembrar dos meus planos de fingir que estava cochilando, surdo, Francês ou apenas sentado lá porque outra pessoa sentou em meu lugar, eu estava andando procurando outra vaga.
Acabei ocupando, infeliz, o assento ao lado de uma garota que tinha um traseiro de menino. Eu sabia disso pois ela andou para bem longe antes de retornar para o banco que eu julguei serem dois assentos vazios quando me sentei.
Eu me mexia inquieto até a nossa reunião na plataforma, onde você brutalmente me informou: "Aquele homem foi muito desagradável, na realidade".
Hoje eu achei melhor ter certeza de que isso não aconteceria novamente, então puxei o meu ticket na ponta do meu assento. Levou algumas tentativas e a fachada de pendurar o meu casado para eu finalmente terminar. Eu estava terrivelmente cauteloso. Há ameaças de punições para tais atos, até onde eu sei, mas esses grilhões estavam no fundo da minha mente enquanto eu esmago a reserva em meu punho escondido. Dobrando e apertando-o como se ele fosse uma fera no caminho do litoral.
Felizmente, não houve retaliação. Alguma coisa deixou o trem mais quieto enquanto a viajem continuava.
E então, no túnel, impedido de decidir, minha cabeça se prendeu nessa trilogia de ângulos, anjo após ângulo, até que saíssemos do outro lado.
Meus espasmos frenéticos sem duvida fizeram o homem na mesa adjacente estreitar seus olhos, no mínimo.
Mas eu não sei ao certo.
Não tive tempo de adicioná-lo ao ciclo."
Alex Turner - A Choice of Three

Nenhum comentário:

Postar um comentário